Todo caminho de aprendizagem, de crescimento passa necessariamente por um mentor. São muitos os mentores ao longo de nossa vida. O processo de aprendizagem e evolução sempre passará pela figura do mestre. E quem é o mestre, afinal? É todo indivíduo que “acumula” uma sabedoria em algum aspecto da vida. Alguém em quem confiamos e principalmente que nos sentimos identificados. Nem todo mestre foi verdadeiramente um mestre em nossas vidas. Nosso sistema escolar estabelece normas que de forma impositiva nos força a termos mestres que muitas vezes, não só não confiamos, como acabamos desenvolvendo sentimentos de medo, temor, raiva, desprezo e por aí vai.
Muitos sentimentos negativos ficam associados a figura do mestre. Durante muito tempo na minha vida eu tinha um sentimento tão negativo que não percebia com exatidão quem era esta figura, nem o que ela representava na minha vida. Eu negava tanto que via raríssimas pessoas como mestres e tampouco me via como mestra. Quando entrei para a escola a minha primeira professora foi Dona Alba. Essa senhora naquela altura da vida não deveria mais dar aula, porque era tão dura e inflexível que eu tinha medo que ir para escola. Eu gostava do ambiente escolar, dos amigos, mas eu tinha medo da professora. Aquela cara fechada, séria e amarga me causava medo e recusa. Mesmo com todos os medos eu tinha um gosto pelo estudo, além disso eu dançava, fazia esportes e fui superando meus medos, graças ao incentivo da minha mãe, estudei e passei naquele ano e lá fui para a segunda série.
Não bastasse ter pego a Dona Alba na primeira série, peguei uma pior ainda, na segunda, essa era tão rígida, que só de olhar, já dava medo. As duas eram igualmente ranzinzas, já deveriam estar a muito tempo aposentadas, mas havia um conteúdo a mais na Dona Ondina que a diferenciava da Dona Alba, ambas eram bravas, mas Dona Ondina escondia em seu enorme corpo uma perversidade cruel que só de lembrar me arrepio toda. Eu nunca esqueci do dia em que ela, batia com a régua na minha mão para me dizer que o meu resultado de matemática estava errado. Eu olhava o da minha amiga de carteira e constatava o mesmo resultado e ela colocava certo no da minha amiga e insistia em me bater e dizer que o meu estava errado. O porque desta atitude, eu nunca soube.
Aquela canetada vermelha no meu caderno somada com as reguadas que eu tomara na mão, marcou minha vida por muitos anos. E não era medo de errar somente, era vergonha de apanhar na frente de toda a classe. Eu acredito que todo ser humano já sofreu uma humilhação, sabe bem do que estou falando. Ser humilhado perante o outro é uma dupla sensação de humilhação, é assim que nossa psique processa. O verdadeiro mestre sabe que não deve expor o aluno perante os outros, mas quem disse que todo mestre segue este preceito?
No entanto, como toda história de vida, não há só coisas negativas, para minha sorte a próxima professora que viria mudaria completamente o rumo da minha história. E, finalmente minha vida escolar começava a ter uma história mais interessante, e eu então passo a tomar gosto pelo estudo. Na terceira série viria Dona Alice! Ah, esta sim salvou meu aprendizado! Além de ter nome de personagem da literatura, era doce e paciente, sabia ensinar e a fazer gosto pela escola. Porque naquela altura eu já estava a ponto de deixar a escola, tamanho era meu medo de encontrar mais uma mestra com tanta rigidez. Será que se pode chamar um ser desses de mestre?
Já Dona Alice, era um amor de pessoa, sabia reconhecer o talento e habilidade de seus alunos, este sim é o verdadeiro mestre. Porque quem não tem a sensibilidade de reconhecer o talento do outro, não deveria nunca querer ensinar. O mestre é alguém que age com desenvoltura naquilo que sabe fazer e ensina fazendo ou ajudando alguém a fazer, ao mostrar e apontar caminhos. O bloqueio emocional causado por um trauma de aprendizagem bloqueia muitos caminhos na nossa jornada de vida. Passei boa parte da minha vida tentando me libertar deles, a performance sempre foi um caminho prático que eu encontrava para me expressar com desenvoltura e segurança. Um espaço para superar minhas vergonhas. Algumas superei, outras veio tentando. [risos..]
Mas tudo isso que estou falando é para chegar em num assunto, que acredito deva interessar a você, meu leitor aqui no Blog e claro tem ligação com o título deste texto que me propus a falar. Como acessar nosso mestre interior? Acessei verdadeiramente minha maestria interior quando tomei consciência de que era preciso reconhecer a necessidade de um mestre, um mentor. Valorizar a experiência vivida pelo outro, tanto quanto a minha própria experiência. Não é assim que as crianças aprendem? Observando e reconhecendo no outro o exemplo de como agir, como falar? Parece óbvio, não é mesmo? Mas o óbvio pode levar uma vida inteira para ser descoberto e muitas vezes a pessoa morre sem se dar conta do tal óbvio. É só observar muitas histórias de vida para constatar este fato.
Só nos tornamos mestres quando reconhecemos os nossos verdadeiros mestres. Toda pessoa que nos ensina, nos aponta um caminho estará naquele momento sendo nosso mestre. Você se torna mestre quando aprende a identificar a sua sabedoria interior. Pois até mesmo quem tenta nos prejudicar pode estar nos ensinando algo sobre nós mesmos. Até mesmo os inimigos são mestres. A vida é a maior de todas as mestras. Aprender é um processo contínuo do existir. Reconhecer a necessidade constante de aprendizagem é uma forma de treinar nossa maestria. Crescer internamente é não repetir os erros. É identificar nosso padrões mentais. Só evoluímos quando trabalhamos nossa virtude.
No mundo tecnológico atual temos a falsa sensação que estamos no controle de tudo. Perdemos a noção do curso natural das coisas. E nos confundimos a tal ponto que não enxergamos quem é nosso mestre de verdade. São tantas as informações, são tantas as influências de naturezas diversas que não sabemos mais qual nossa verdadeira natureza. Acessar nossa Natureza Primeira é a melhor forma de ouvir nosso mestre interior. A intuição é uma sabedoria que nosso espírito guarda no íntimo, é preciso dar espaço a ela. E você tem dado espaço para a sua intuição? Saiba escolher seus mestres. Busque no seu íntimo responder quem é a pessoa que você vai autorizar a te ensinar. Isso é uma responsabilidade que cabe a você na vida adulta.
Eu te convido a olhar no seu íntimo com leveza e cuidado, observar quais são os aspectos que te fazem sentir seguro e confiante. Depois verifique quais são os aspectos da sua personalidade que estão te deixando inseguro. Perceba quais foram seus verdadeiros mestres, na sua caminhada até aqui. Você saberia identificar as pessoas que realmente fizeram a diferença no seu aprendizado de vida? Liste as características destas pessoas e as utilize como exemplo para suas ações futuras. Dê espaço as suas qualidades para que brotem ainda mais. Quanto as dificuldades, identifique-as, e em seguida busque ajuda para aprender o que, em você, é mais difícil de resolver. É muito comum abandonarmos nossas dificuldades e dar como causa perdida, mas é na dificuldade que devemos crescer. Ela é a que mostra o caminho para melhorarmos. Não tenha vergonha de buscar ajuda. Ter um mentor é uma forma de “encurtar” o caminho. Procure ajuda de um mentor que você se identifica, confie na sua intuição e siga aprendendo.
Bom, espero ter contribuído, com este conteúdo para você que busca na arte um caminho de desenvolvimento e crescimento pessoal. Convido você a deixar comentários sobre este conteúdo, também dicas e sugestões para o próximo. O seu comentário servirá sempre como guia, ficarei muita grata. Estou disponível para atendimento de orientações psicocriativas online e presencialmente para quem mora em Florianópolis, SC. Ou ainda, para quem deseja minha orientação criativa nas Residências Artísticas no Ateliê Casa das Ideias, é só entrar na página e escolher o melhor plano. Se quiser conhecer minhas criações como artista, e dos meus orientandos, visite meu canal criativo no Youtube. Um abraço afetuoso.
obs: a foto é uma performance (inédita) que faz parte do novo livro “a lenda do artista”, lançamento previsto para o início do próximo ano e foi feita em homenagem ao artista Rodrigo de Haro, e vai estar no capítulo que dedico aos mestres. A túnica que estou vestindo é um presente que recebi de Rodrigo, em 2004 quando cheguei na cidade de Florianópolis para morar.
Belo texto Silvana, a maestria em si é o caminho da vida, cada um/a no seu tempo, sabendo que o caminho tem pedras , pequenas e grandes , grades e muros , e na medida que nos los passamos, crescemos , demos saltos na própria maestria, sejamos alvos de nossos destinos que aconteçe, inevitavelmente .
A liberacao dos mestres de fora , o abandono de todo estudado, aprendido e ensinado, é uma sequencia que tb pode acelerar a obra VIDA, deixando a tela em Branco para começar com novas cores.
A maestria de si precisa todos/as gurus, charlatões, falsos profetas e mestres escuros para que conhecemos a diversidade e escolhemos com sabedoria, o que um MESTRE faria.
Como acessar nosso mestre interior?
Muita conexão entre o seu artigo e nosso encontro na minha residência artística!
Quando abordamos o Corte Narcísico,que leva a liberdade de expressão, quando já não precisamos agradar e aí sim sendo fiéis aos nossos sentimentos, estamos nos ouvindo e acessando nosso mestre interior. Alçamos então o voo da liberdade de criação!