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Como descobri que a arte era o meu maior talento?

Atualizado: 13 de ago. de 2021




Eu vou lhe contar um pouco da minha história como criadora. Como descobri que a arte era o meu maior talento? Eu tinha 22 anos, uma formação de psicologia quase concluída, morava na cidade de Itajaí, estado de Santa Catarina e recebi uma proposta de morar em Brasília. Proposta feita por um amigo artista (cartunista), nordestino que morava em Brasília há muitos anos e que tinha tentado a vida, no Sul do país, mas acabou desistindo da ideia e resolveu voltar para a capital e me propôs trabalhar com ele.


Cheguei em Brasília e fui passar o carnaval em Olhos d´Água, pequeno vilarejo em Goiás, reduto e refúgio de muitos artistas, e lá fiquei conhecendo então, muitos deles, em especial conheci um poeta e fotógrafo que foi fonte de muitas trocas artísticas e inspirações. Meu dia a dia se transformou basicamente em arte. Eu respirava arte. Ia muito a concertos de músicas, teatros, exposições de artes visuais, cinema... e a grande maioria dos meus amigos eram artistas. A arte passou a fazer parte integral da minha vida e em menos de um ano eu já estava escrevendo meus primeiros poemas e clicando minhas primeiras viagens. Mas, só ver arte não foi exatamente o motivo, embora tenha sido o ponto inicial. Um dos fatores fundamentais para eu descobrir o tal estado de inspiração que todos falam tanto, se deu nas muitas viagens que realizei primeiramente no interior do país.


Eu sempre fui uma amante apaixonada pela natureza, e descobri que a paisagem era o grande alimento para minha alma, nela eu encontrava o estado perfeito para escrever e fotografar. Era uma espécie de combustível. Uma intensidade atravessava meu corpo, meu espírito de uma forma que eu não poderia mais viver sem a viagem. E a cada viagem novas histórias eram escritas, tímidos poemas, e imagens iam se descortinando. Fui descobrindo que não era registrar a paisagem que me interessava, mas sim a sensação de ver algo novo e inusitado. A sensação de aventura, era o que meu espírito precisava. Entendi naquele momento que a minha arte vinha do meu corpo. E assim nasceu a performance, experimentar meu próprio corpo em contato com a natureza e ver outras pessoas experimentarem o seu corpo em contato com a natureza - este era meu princípio de vida, isso na verdade era o que me movia a criar. Estar em contato pleno com a natureza, encontrar as formas harmônicas do corpo se movendo no espaço e registrar este contato sensível de um corpo que sonha no espaço aéreo. Minha arte vinha daí. Eu entendi que o meu tema era o corpo e sua liberdade. Mas como ser livre sendo mulher num mundo patriarcal? Como experimentar o corpo e sua intimidade com a natureza sem ser taxada moralmente?


Fui entendendo que mesmo tendo nascido mulher e ter que enfrentar essa barreira moral, havia uma condição que era pertencente a qualquer humano e que eu não poderia escapar. E mesmo sofrendo preconceitos e vencendo meus medos e vergonhas entendi que em primeiro lugar precisamos nos despir de nossos próprios preconceitos. Sim, não há como ser quem se quer ser, julgando a si e aos outros. A maioria estrondosa das pessoas, pensa que ser livre é fazer o que se quer. O livre arbítrio pode ser uma das coisas, mas a liberdade pressupõe responsabilidade consigo mesmo e com o outro. A primeira liberdade que é preciso alcançar, é a capacidade de perceber o juiz que se encontra dentro de nós. Quer ser livre? Liberte-se do julgamento. E assim fui ao longo da vida me despindo do meu julgamento e encontrando na arte a possibilidade de me transformar naquilo que eu sonhava ser. Sonhar é o primeiro passo, conquistar a liberdade é tema para a vida inteira. Nascer mulher é uma condição a ser transcendida. Se tornar uma pessoa livre exige muito autoconhecimento e autorresponsabilidade. Encontrar o seu verdadeiro talento exige uma certa coragem.


Talento devia ser algo que facilmente identificamos, não é mesmo? Mas se olharmos atentos a nosso redor, vamos perceber rapidamente uma lista de pessoas conhecidas que estão infelizes com a sua escolha de vida. Se perguntarmos a ela qual o seu maior talento, em geral muitas delas vão dizer que não sabem. Porque talento tem muito haver com propósito e não só com habilidade propriamente. Ter talento não se resume a ter uma habilidade. Ter talento é reconhecer em si uma habilidade capaz de gerar na sua existência o sentimento de autorrealização. No entanto não é só isso, tem algo a mais. O que seria este “algo a mais”? Ninguém se realiza sozinho, nos sentimos realizados quando contribuímos com o Todo. Porque não estamos sós no mundo. Quando nosso talento está a serviço da sociedade, do outro, nos sentimos ainda mais valorizados e este sentimento nos deixa mais plenos e a sensação de realização se torna mais íntegra e completa. Servir ao outro é parte de nossa missão de vida.


Percebi também que não bastou descobrir meu talento primeiro, a arte. Ao longo da vida vamos nos dando conta de que são muitos os nossos talentos. Minha mudança de chave veio quando entendi que junto com o meu talento de artista havia uma outra grande habilidade e que era a de ajudar outras pessoas a encontrar seu talento. Eu havia adquirido esta habilidade ao ter me dedicado ao estudo da psicologia, esta formação me deu um sólido alicerce: a arte de escutar o outro. E mais que isso veio a consciência de que era minha responsabilidade não negligenciar esta descoberta. Hoje meu trabalho como orientadora criativa nos Programas de Consciência Criativa e Residência Artística, no Ateliê Casa das Ideias é algo que me deixa muito realizada, pois além de continuar criando ajudo outras pessoas artistas e pessoas comuns a encontrarem seus talentos através da arte. E você já encontrou o seu maior talento? Está alinhada com ele? Me conta aqui nos comentários. Quer saber mais sobre minha carreira artística e meu trabalho como orientadora criativa? Acesse minha página no site www.silvanalealart.com ou www.ateliecasadasideias.com

foto: Leonardo Almada








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